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Foto do escritorFelipe Daniel Ruzene

Alimentação e Luto na Ilíada de Homero

“Chorar os mortos com o ventre é inadmissível”: fome, guerra e luto no Canto XIX da Ilíada, por Felipe Daniel Ruzene. Texto publicado nos Anais do III Seminário do Grupo de Pesquisa Literatura e Tempos Sombrios – Literatura: gestos de resistência, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).


“Chorar os mortos com o ventre é inadmissível”: fome, guerra e luto no Canto XIX da Ilíada,  por Felipe Daniel Ruzene

Resumo:

Inspirado nos debates sobre a dietética apresentados por Michel Foucault, o objetivo deste texto é discutir a relação entre fome, guerra e luto na Ilíada, desde o Canto XIX, no qual o anseio de Odisseu de alimentar as tropas se choca com o desejo de Aquiles pelo combate em jejum, motivado pela morte de Pátroclo. Nesse contexto, observa-se que o jejum é evocado na narrativa homérica como um elemento ratificador dos ritos fúnebres e o alimento se qualifica como “hediondo” dado ao pesar do luto. Enquanto a guerra e a abstinência aproximam o herói da autarquia dos deuses e da virulência dos animais, a dietética apontaria para a mortalidade dos agentes humanos. A partir da interpretação de que o banquete nesse épico é um espaço institucional de convívio social no qual se estabelece a “amizade” homérica, um elo essencial da xênia sagrada, ao romper com a institucionalidade dos banquetes, Aquiles não faz uma simples escolha individual sobre como vivenciar seu amargo luto, mas impõem às tropas um rompimento com o protocolo da hospitalidade. A recusa pelo alimento, iniciada no Canto XIX, prolongar-se-á como elemento narrativo até o final do poema, quando Aquiles e Príamo ceiam juntos e recobram a existência cotidiana que (diferentemente da vivência enlutada) pressupõe o consumo alimentar periódico, o convívio social e o sono. Suscitando aos versos homéricos, concluir-se-á que a ausência de alimento leva o enlutado ao consumo da própria dor.


Palavras-chave: Homero; Poesia Épica; Dietética; Luto; Ilíada.




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